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Chocólatra


Oi. Meu nome é Isabel e eu não como chocolate há duas horas. Pois é… tem gente que se diz chocólatra e não sabe o que tá falando. Eu preciso de um chocolatinho ao final de cada refeição. Às vezes até no café da manhã. Não me venha com nutella, mousse, merengue ou brigadeiro. Minha droga é chocolate puro. De preferência 60% de cacau pra mais.

Acho que isso tem a ver com um trauma de infância. Aos 7 anos de idade, meus pais me levaram a um pediatra que se dizia capaz de curar minha bronquite asmática cortando chocolate da minha dieta. O que é isso, Brasil? Medicina ou sadismo? Foram as duas piores páscoas da minha vida.

Na primeira, fomos para um sítio de amigos em Ibiúna. Enquanto todas as crianças saíram saltitantes pelo terreno à procura de ovos escondidos embaixo de pés de alface ou atrás da lenha da lareira, eu fiquei quietinha na varanda, assistindo tudo com lágrimas nos olhos.

Na segunda, não me lembro de viagens, mas me lembro que na escola todos ganharam um coelhinho de chocolate e (pasme) eu incluída. Pelo jeito, meus pais não comunicaram minha restrição alimentar ao povo da escola. Dessa vez, tive que me planejar. Guardei o coelhinho do fundo da mochila e cheguei em casa sem dar bandeira da ansiedade… Me tranquei no banheiro e sentei dentro da banheira, muito bem acomodada para degustar o crime dos deuses. Jesus, Maria, José, como era bom aquele trem…

Enfiei a embalagem de papel alumínio no fundo do lixeira para não deixar vestígios, mas não foi suficiente. Minha mãe viu a mancha marrom na uniforme da escola, além de outro marronzinho no meu queixo. Achei que ela ia me comer viva. Mas não. Simplesmente descansou a mão no meu rosto, me disse que não estava brava, afinal era páscoa… e resolveu achar um outro pediatra. Nascia naquele momento uma usuária de bombinha e uma chocólatra de carteirinha.

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